O objetivo desta
carta é registrar de forma clara e transparente o posicionamento dos atores
escolares mais envolvidos e afetados pela proposta de reorganização escolar da
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Este é um manifesto
político, mas também afetivo.
É político porque
discorda radicalmente com o modo como
opera o Governo do Estado, que sendo eleito democraticamente pelo voto
popular, tira daqueles que nele confiaram seu voto de qualquer participação nos
processos decisórios a respeito dos mais elementares rumos que a Educação
precisa tomar; é político porque vem rememorar a recente greve de três meses
dos docentes, que mesmo sendo ignorada pelas autoridades, já apontava para o
início de ações que visariam o sucateamento cada vez maior da profissão e das
condições de trabalho em todo o estado; é político porque acredita na força e
na consciência dos jovens, que tem tomado a frente da questão e que, ao serem
igualmente ignorados por quem deveria ouvi-los, expõe as feridas do problema
pelo menos em alguns poucos veículos de comunicação.
No entanto, é afetivo
também.
É afetivo porque não
compreende como uma decisão unilateral e vertical possa simplesmente não levar
em conta a História e as histórias que uma comunidade escolar vive e possui; é
afetivo porque entende que feita desta forma, a reorganização despreza o
trabalho realizado a duras penas por inúmeros professores, funcionários,
diretores e coordenadores ao longo dos mais de sessenta anos de vida da escola;
é afetivo porque exclui dos educandos a possibilidade de escolha e ao mesmo
tempo de fortalecimento de suas marcas e identidades, de seu pertencimento
construído e lapidado desde a sua chegada.
Do nosso ponto de
vista, outras ações seriam mais necessárias e urgentes para a validação de uma
proposta de reorganização. Como exemplos sublinhados há anos, podemos citar:
1 - Maior investimento: em 2015, os poucos
recursos que permitiam a confecção de alguns projetos e mesmo de materiais
elementares (como de Educação Física e cópias) atrasaram ou foram cancelados.
Para variar os recursos didáticos ou ter papel higiênico, muitos professores
precisam tirar dinheiro do próprio bolso;
2 – A redução do número de alunos por sala –
um dos pretextos para a reorganização seria a “ociosidade” de algumas escolas.
Desafiamos as autoridades a conferir quão ociosa é nossa escola. Como vamos
discutir melhoria da qualidade na Educação mantendo a média de quarenta alunos
por sala? Por que não mudar isso de vez? Por que fingir que isto não faz
diferença na atuação docente e no ambiente escolar?
3- Reivindicação dos Professores - nenhuma
proposta feita na época da greve foi levada a sério pelo Governo do Estado. Por
que não ouvi-los? Por que não abrir um diálogo com a figura central da política
pública educacional? Que espécie de reorganização irá funcionar com a oposição
dos professores?
Enfim, o que queremos
e o que esperamos está exposto. Mudanças maiores ou menores virão, mas temos
certeza de que em toda a rede estadual, mudanças serão cosméticas ou
simplesmente não passarão se as palavras dos sujeitos mais vulneráveis nessa
relação caírem no vazio.
“A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o
bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo
da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos
jovens.” (Hanna Arendt)
Chega
de desrespeito!
São
Paulo, 20 de Outubro de 2015
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