Contadora de histórias, criadora do Café
Cultural, leciona no Silva Prado desde 1992, ex-aluna da escola também, com
duas idas e vindas para o Silva... Ela
é umas das professoras mais marcantes da escola e todos os alunos gostam dela.
Nós do blog, fizemos uma entrevista
super descontraída... Sabe quem é? Não? Então continue vendo e divirtam-se com
a Prof.ª Cida Macedo.
Blog: A gente sabe que a senhora estudou
aqui também, fala um pouquinho de como era antes?
Prof.ª Cida Macedo: Eu tenho uma afeição,
uma nostalgia pelo Silva Prado. Eu me lembro de muitas coisas que passei aqui.
No tempo em que eu estudava, a situação do Brasil era diferente. Vivíamos numa
sociedade reprimida pelo governo. Então, todo dia tínhamos que cantar o Hino
Nacional, formarmos filas e as coisas também eram muito mais exigidas de nós.
Hoje em dia, os alunos são meio que soltos, optam por não estudarem e nós não
tínhamos isso, éramos obrigados a estudar, a tirar notas boas... Os pais cobravam, a
sociedade cobrava. Então, era bem diferente.
Eu sempre fui bem
agitada... Virava e mexia, eu também levava advertência, mas por coisas muito
bobas; coisas que, hoje em dia, nem são consideradas como atos de uma pessoa
indisciplinada. Na minha época, o que eu fazia era indisciplina; hoje em dia
não.
Blog: A senhora fazia sarau aqui, o Café
cultural... A senhora poderia nos contar um pouquinho sobre isso?
Prof.ª Cida Macedo: Não sei se
vocês sabem, mas o nome da escola era Grupo Escolar Deputado Silva Prado e Ginásio Estadual Jornalista
Francisco Mesquita. A mesma escola tinha dois nomes. O Grupo Escolar era
da 1ª a 4ª série. Hoje em dia, o ensino fundamental vai até o 9º ano, né?
Naquele tempo não, era só até a 4ª série (atual 5º ano), que então recebia o
nome de Grupo Escolar Deputado Silva Prado, e quando passávamos para a 5ª série
(6º ano) virava Ginásio Estadual Jornalista Francisco Mesquita. Assim, era
Deputado de manhã, e à tarde e à noite Francisco Mesquita. No 1º ano, eu me
lembro muito bem, estava na sala cinco e uma professora deu uma atividade: ela nos
contou a história da Chapeuzinho Vermelho. Contou-a com dois lápis na mão, um vermelho e um azul, muito bonitos.
Como éramos bem pobres, só tínhamos caderno, um lápis e uma borracha, a
professora disse que quem fosse à frente e recontasse a história, ganharia os
dois lápis. E eu, mesmo sendo tímida, fui lá e contei a história. Resultado?
Ganhei os dois lápis! E a partir daí, eu gostei muito da ideia de contar história. Sempre fui voluntária
quando me pediam alguma coisa; fazia teatro, e quando me tornei professora,
acabei colocando isso em prática. Teve uma época, que lecionava somente à
noite, fiquei muito tempo no período noturno, e a escola era bem movimentada,
tudo acontecia à noite, mas era tudo de bom. Eu participava do Movimento Cultural
Penha, e o pessoal de lá promovia alguns eventos de disputa entre escolas
estaduais. Nós, do Deputado, disputávamos na categoria peça teatral. Ganhamos três
anos como melhor peça teatral. As peças tinham que ser espontâneas, algo referente
a ações corriqueiras... Eu cheguei a levar 66 alunos (atores) para
representarem em uma única peça; todos queriam participar e era uma febre fazer
teatro. Vários alunos vinham em busca dessa arte. Com esses 66 alunos, eu fiz
um cenário humano e era um conto de terror, quando aparecia um fantasma o cenário
fazia "uhhhh..." e os atores se movimentavam; ficavam de costas,
faziam movimentos para frente e com as mãos. Depois disso, comecei a fazer
teatro, a apresentar em vários lugares de São Paulo, como atriz de um grupo que
acabou entrando em conflito, e eu resolvi me desligar dele. Quando eu saí,
minha mãe faleceu e eu entrei em depressão, para me tirar da depressão eu comecei a contar história, incorporar
personagens, usar a linguagem teatral junto com a linguagem de “contação de
histórias” e tive a ideia do Café Cultural, para movimentar as pessoas em torno da arte.
Nesse evento, as pessoas apresentavam vários tipos de arte e é por isso que foi
batizado como “café”, porque você toma café quase sempre acompanhado de
alguém... Cada um leva uma coisa, então o Café Cultural é a mistura de várias manifestações
de arte. Já fiz o “café” em outras escolas, e até na casa de amigos.
Blog: Se hoje fosse voltar o Café
Cultural, a senhora apoiaria?
Prof.ª Cida Macedo: É claro! Tem
até a iniciativa de alguns alunos que querem fazê-lo novamente, e eu também quero
fazer, inclusive em outubro... Outubro é um ótimo mês porque tem férias,
eleições... Será um bom momento pra gente voltar. O Café Cultural não é só
de uma pessoa, é da escola, é de todos.
Blog: E sua relação com os alunos, como
é?
Prof.ª Cida Macedo: Eu me vejo como
uma professora que se relaciona bem com eles. Não tenho conflito com aluno, é
difícil. Já tive, sempre temos alguns conflitos no meio do caminho, porque às
vezes não estamos predispostos a ouvir certas coisas, o que acaba em conflitos.
Vocês que têm que perguntar para eles.
Prof.ª Cida Macedo: Que graça! Eu
procuro elaborar aulas interessantes, porque eu tive muito problema quando era
aluna. Eu repeti duas vezes a 6ª série por motivo de muitos conflitos com a
professora de Português. Essa professora não me deixava assistir às aulas dela.
Ela me fazia sair da sala para poder dar aula... Eu questionava algumas coisas
que ela dava que eu achava que não tinha sentido. Resultado: ficava no corredor.
O Paulinho, um inspetor bem rígido, se pegasse aluno no corredor, levava-o para
a direção. A gente tinha que ficar com o nariz virado para a parede por um tempão, como punição,
ainda levava advertência e, dependendo da quantidade de advertência, era
expulso. Então, eu acabava não indo à escola nos dias de Português, e esses dias
eram quase todos da semana. Aí eu repeti por faltas, pois a disciplina de
Português era sempre com a mesma professora, até que eu me calei e passei de
ano. Mas, essa professora foi um excelente exemplo para mim em questão de
didática, para eu nunca ser igual a ela. Sempre monto aulas diferentes pensando como aluno,
porque o aluno fica entediado com certas coisas que também me entediavam.
Blog: Por que a senhora escolheu
lecionar justamente a área de português?
Prof.ª Cida Macedo: Ah, eu sempre
gostei da área de comunicação, sempre falei muito. Acho que isso foi o meu
problema com a professora de Português. Eu tinha um professor que gostava do
meu jeito e me defendia. A matéria dele era Práticas de Serviços de Escritório,
uma matéria muito legal... Ele trazia cópias de cheques, de notas promissórias
e a gente tinha que aprender a preenchê-los. Era muito legal, produtivo e útil.
A vida me levou para ser secretária, e como tal, eu tinha que ter um bom português.
Tive a ideia de fazer Administração de Empresas, mas apareceu no meu caminho o
curso de Letras.Tive problemas com a professora de Didática, porque ela achava
que eu ia me formar para ser secretária. Ela me criticava muito, mas eu sempre
levei críticas numa boa. Críticas, na minha vida, eu levei muitas, mas sempre
na boa, nunca fiquei em depressão por isso. Mas, entre todo o pessoal do grupo,
eu fui a que levou a profissão de professora à frente... Fiz mestrado e estou
começando a fazer o doutorado. Talvez
no começo do curso minha intenção fosse concluí-lo para ser uma melhor secretária,
mas quando fui fazer estágio me apaixonei, tinha até um amigo que dizia "quando somos picados pelo bichinho da educação, não tem jeito".
Blog: E a senhora poderia indicar um
livro, filme e uma frase que a senhora gosta muito?
Prof.ª Cida Macedo: Opa... Um
livro, um filme e uma frase?
Blog: Isso... Até uma peça teatral se
você quiser trocar.
Prof.ª Cida Macedo: Eu tenho vários
livros, filmes e frases de que gosto muito..
Blog: O que a senhora mais gosta de
fazer no tempo livre? O filme que gosta de ver sempre? Só não vale falar que é
corrigir prova (risos)
Prof.ª Cida Macedo: Aí seria a
coisa de que eu menos gosto (risos). Mas vamos lá... A coisa que mais gosto de
fazer, é ir ao teatro.
Blog: Então qual sua peça preferida?
Prof.ª Cida Macedo: Adoro comédia;
gosto de peça instrutiva, mas eu gosto de ir ao teatro e dar risada. Com a peça
"Trair e coçar, é só começar" eu me diverti muito, ri bastante. Mas
foram atores de um grupo teatral, que eu os procuro até hoje e não sei onde
estão, que fizeram a mais fascinante representação teatral que já vi na vida,
na peça "Auto da barca doinferno", no teatro do Centro Cultural, que fica na estação Vergueiro.
Lá tem um teatro maravilhoso, que é um teatro de arena. Só que, naquele dia, os
organizadores do Centro Cultural nos colocaram num porão, e eu achei aquilo tão
estranho, horrível, só que tudo fazia parte da peça “Auto da barca do inferno”,
porque parecia mesmo que estávamos no inferno e foi muito bom. Um dos atores, o
que fazia o papel do diabo, tinha uma produção fantástica no seu figurino. Ele
estava com o corpo de cavalo mesmo, e ele chicoteava e o barulho retumbava no
ambiente todo. Eu até fico arrepiada quando me lembro dessa peça. Para
assisti-la, eu e a professora Carmem levamos os alunos da EJA. Foi muito bom. Quanto
ao filme, eu gosto de clássicos... BenHur, Os dez mandamentos, Quo Vadis... Gosto de filmes clássicos, históricos. De livro? Eu gosto de muitos, muitos livros. Mas gosto de Machado de Assis, do livro Dom
Casmurro, por exemplo. Já o li
umas 50 vezes e cada vez eu enxergo uma coisa diferente. Daqui do Brasil é
Machado de Assis, de fora é a obra de Dante
Alighieri, Adivina comédia humana. É o meu livro preferido de todos os livros que já li... Ele foi o mais
fantástico, ele me leva a uma atmosfera, a uma jornada diferentes. É
fantástico...
Blog: Uma frase que você leva pra sua
vida?
Prof.ª Cida Macedo: Aproveite o tempo, antes que ele passe.
Foi um professor que escreveu na minha agenda, na 8ª série, e eu nunca esqueci
isso. E realmente, temos que aproveitar o momento, porque passa muito rápido.
De repente você está com 18 e depois com 30. Aproveite o tempo para fazer tudo,
que o dia entra e sai e você nem percebe.
Blog: A senhora quer deixar um recado
para quem está lendo?
Prof.ª Cida Macedo: Quero... Deixe-me
pensar direitinho, porque as palavras são muito importantes. Com elas, você
pode exaltar uma pessoa, como também pode acabar com ela. Então é importante...
"Basta ser sincero e desejar profundo. Você será
capaz de sacudir o mundo... Tente sempre, sempre. Uma vez e mais uma vez, e
outra vez." É do meu grande poeta e ídolo Raul Seixas.
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Participaram
dessa excelente entrevista:
Beatriz França
(2ºF)
Thamara (3ºB)
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